quinta-feira, 6 de maio de 2010

Pra minha boca grande.

Um texto antigo, quando eu ainda não viajava a São Saruê. Ia quase lá: até o Jardim dos Caicós.



Numa rua colorida, de casas geminadas, existe uma casinha branca, meio sem graça, mas de janelas redondas. Lá moram Gertrudes e Damião, um casal de irmãos velhinhos, quase com 80 anos cada. Ela, que nunca se casou, vive ali desde que nasceu; ele só voltou àquela casa, há 6 anos, quando sua mulher Anita morreu, e seus filhos Joselito e Ricardina casaram e foram morar longe. A vida dos dois era tão sem graça quanto a casa que moravam. Dormiam, comiam, assistiam TV e, de novo dormiam, comiam e assistiam TV. Pouco falavam. Até mesmo das Neves, faxineira e cozinheira deles, nunca tinha ouvido as suas vozes. Apenas uma vez ao mês saíam de casa para irem à Agência Bancária receber as suas aposentadorias. Todos os dias 17 de cada mês Damião vestia seu terno azul turquesa, pegava seu chapéu violeta, e as chaves do seu Mustang verde abacate, abria os portões brancos da garagem, tirava-o, estacionava-o na frente de sua casa para esperar Gertrudes. Ela, de repente saía pela porta, com seu vestido amarelo sol, com floresinhas laranja bordadas na barra, sua bolsa lilás na mão e entrava no carro. Isso acontecia sem falarem uma palavra. Quando voltavam do Banco, faziam seus pagamentos e só. Recomeçavam as boas e velhas vidinhas sem graça de novo.


Suzany Cecília da Silva Medeiros
01/07/2004
Álgebra I
Ceres - Jardim dos Caicós.



Pra eu aprender a ficar caladinha.
tsc.tsc.

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